As universidades no Bicentenário da Independência

O ano de 2022 será emblemático para o país. O motivo óbvio é que teremos eleições em meio à celebração do Bicentenário da Independência. Em 1922, a proximidade das comemorações do centenário levou parte da intelectualidade a repensar os rumos da República e sugerir caminhos para um Brasil moderno.

As universidades no Bicentenário da Independência

O ano de 2022 será emblemático para o país. O motivo óbvio é que teremos eleições em meio à celebração do Bicentenário da Independência. Em 1922, a proximidade das comemorações do centenário levou parte da intelectualidade a repensar os rumos da República e sugerir caminhos para um Brasil moderno.

O ano de 2022 será emblemático para o país. O motivo óbvio é que teremos eleições em meio à celebração do Bicentenário da Independência. Em 1922, a proximidade das comemorações do centenário levou parte da intelectualidade a repensar os rumos da República e sugerir caminhos para um Brasil moderno. Nesse contexto, destacaram-se a Exposição Universal, no Rio de Janeiro, e a Semana de Arte Moderna, em São Paulo. A imaginação da época se deixava guiar pelo imperativo do progresso, mas a industrialização, representada aqui e ali em pinturas ou versos, era apenas promessa. A ciência era cultivada em instituições importantes, que haviam servido a uma reforma sanitária, mas também ao racismo científico e ao darwinismo social. Tudo isso já foi bastante debatido. Mas, como efemérides são momentos de balanço, cabe voltar a indagar o que mudou e o que — lamentavelmente — não mudou tanto desde o primeiro Centenário da Independência.

Dois problemas, tidos como preocupantes cem anos atrás, seguem na ordem do dia: (1) nossa estrutura produtiva agrário-exportadora nos caracterizava como país atrasado; (2) nossas desigualdades funcionavam como entraves à modernização. Em 1922, o sentido da brasilidade a ser construída demandava ultrapassar essas barreiras. Cem anos depois, podemos dizer que avançamos, mas em meio a graves e persistentes limitações. Uma conquista primordial, que se tornou chave no enfrentamento dos dois problemas mencionados, foi a criação, expansão e democratização da universidade pública, no âmbito da estruturação de um complexo e abrangente sistema nacional de ciência e tecnologia.

Para conquistarmos uma verdadeira independência, dois eixos passam pelas universidades brasileiras e pelo sistema nacional de ciência e tecnologia no qual estão inseridas. Um é a soberania e o desenvolvimento de ponta, fundado em ciência e tecnologia, e orientado para a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Nesse quesito, uma sina de concentração em atividades agrário-exportadoras de baixa complexidade tecnológica parece nos perseguir. Mesmo o crescimento que tivemos em décadas recentes foi marcado pelo ciclo das commodities. Dentre os produtos com maior participação nas exportações, os produtos primários e baseados em recursos primários foram os que apresentaram maior crescimento: de 37,2% em 2016 para 44,3% em 2020, sendo que as exportações nessa categoria apresentaram um crescimento total de 40,4% neste período. Os produtos baseados em recursos primários mantiveram a participação de cerca de 30% das exportações.

Já os produtos de média e alta tecnologia tiveram reduções na pauta exportadora e no valor exportado: os de média tecnologia reduziram sua participação de 20,2% em 2016 para 14,2% em 2020, ao passo que as exportações nesse setor diminuíram 16,7% no período. Na sociedade do conhecimento do século 21, o tripé ciência-tecnologia-inovação ocupa o centro dos processos de geração de riqueza e agregação de valor. Logo, a universidade é um vetor estratégico, visto que nela se realiza grande parte da pesquisa brasileira. O segundo eixo é o combate às desigualdades, com prioridade para a superação da pobreza, da concentração da riqueza e das heranças da escravidão, ainda marcantes em nosso país.

Por força das elites, a universidade brasileira é tardia. Apenas em 1920 foi assinado o decreto de criação da Universidade do Brasil, mas demorou algumas décadas para que ela funcionasse de modo integrado e servisse à construção de um sistema universitário, como era sua missão. Mais tardio ainda foi o início da democratização desse sistema. Por tudo isso, tornar a universidade integrada à renovação de nossa matriz produtiva e geradora de conhecimento relevante para o desenvolvimento social do país; e ao mesmo tempo ampliar os canais de acesso para os segmentos mais desfavorecidos e marginalizados da nossa população, garantindo sua permanência, devem ser as missões primordiais das universidades brasileiras no Bicentenário da Independência. O evento UFRJ + 100 buscará caminhos concretos para implementar esse projeto, que se desdobra em diferentes áreas do conhecimento.

Artigo publicado no jornal O Globo, em coautoria com Luis Fernandes. Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/universidades-no-bicentenario-da-independencia.html

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