É preciso enraizar na sociedade, sobretudo nos jovens, o senso da urgência.
A maioria dos brasileiros (81%) enxerga o aquecimento global como um problema importante, conforme mostrou pesquisa Ipec realizada em 2021. Apesar disso, apenas 2 em cada 10 dizem estar bem informados sobre o tema —um déficit que abre espaço para a desinformação.
Pesquisas qualitativas indicam uma insatisfação das pessoas com sua própria falta de conhecimento. Entrevistas com grupos focais realizadas pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ sugerem que as pessoas gostariam de saber mais sobre o problema e, principalmente, sobre suas soluções. Ainda que separem o lixo e estejam dispostas a mudar hábitos de consumo, isso não basta —e elas sabem. Percebe-se, portanto, uma lacuna entre a escala do problema e as saídas vislumbradas pelo senso comum.
“A humanidade tem uma escolha: cooperar ou perecer. Ou fechamos um pacto de solidariedade climática ou um pacto de suicídio coletivo”, alertou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na abertura da 27ª Conferência sobre as Mudanças Climáticas (COP27). Ainda que as responsabilidades dos países sejam desiguais, todos nós somos parte do problema. Logo, precisamos ser parte da solução. Do contrário, deixamos um terreno fértil para a angústia e a alienação (que são ingredientes do negacionismo). Como dizia Bruno Latour, negar as mudanças climáticas também é um recurso daqueles que preferem escapar de uma realidade com a qual não sabem lidar.
A expectativa é que a COP27, que termina nesta sexta-feira (18), seja a conferência da implementação —aquela que vai colocar os acordos em prática. Isso torna ainda mais urgentes estratégias para aumentar a participação da população —especialmente da juventude— na agenda climática. A cada COP, o artigo 6 da Convenção das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (que defende habilitar a sociedade a ser parte da solução por meio da educação e da conscientização) é retomado em termos mais enfáticos. Foi criada uma Ação para Empoderamento Climático (ACE, em inglês), com o objetivo de fomentar o engajamento da sociedade, por meio da educação climática, da conscientização e da participação pública e do acesso à informação.
No ano passado, em Glasgow, foi aprovado um programa de trabalho para fortalecer essa ação, com orientações para que os países: incorporem o tema das mudanças climáticas ao currículo de todos os níveis de ensino, de modo transversal, inclusive saberes tradicionais e dos povos originários; treinem professores de todas as áreas para abordar o tema; formem uma força de trabalho adaptada aos desafios da transição para uma economia de baixo carbono; empoderem sua juventude para participar das decisões da agenda climática; integrem suas estratégias de educação às políticas públicas e compartilhem suas experiências internacionalmente.
O Brasil tem um programa de educação ambiental bem desenhado, implementado pelo Ministério do Meio Ambiente em conjunto com o da Educação durante o primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para surpresa de ninguém, foi tudo desmontado no governo Jair Bolsonaro (PL). Agora, temos uma ótima oportunidade de atualizar o plano, priorizando a questão climática, debatendo conteúdos transversais que englobem todas as disciplinas (biológicas, humanas e exatas) e incidindo sobre o ensino básico, com programas de produção de material didático e formação de professores (realizados em conjunto com as universidades).A educação climática é uma ferramenta-chave para a popularização e a democratização da agenda climática, que precisa se tornar mais enraizada na sociedade. Só assim, incorporando ações de baixo para cima, poderemos ser parte da solução —uma vacina contra a tentação de fugir do problema por ele ser grande demais.
Artigo publicado na Folha de S. Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/11/educacao-climatica-em-tempos-de-grandes-mudancas.shtml